terça-feira, março 18, 2008

António Gedeão

Lágrima de preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

1 comentário:

Anónimo disse...

De anos a anos leio este poema aos alunos, contextualizando-o através das necessárias referências históricas da época em que foi escrito (a guerra colonial), é impossível não ficar emocionado. Sempre.

Tenho algures num dvd a versão cantada, mas não é a mesma coisa.